segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Machado, sempre Machado

Hoje completa-se 100 anos de morte de Machado de Assis.
Joaquim Maria Machado de Assis, pobre, mulato, foi um típico brasileiro que venceu sozinho. Sem recursos e diante de uma enorme vontade de adquirir conhecimento, aprendeu sozinho línguas como Inglês e Francês, entendia de política ao ponto de criticar com propriedade o governo da época. Era uma figura ímpar, que criou textos e personagens belíssimos que nos transportam para um mundo incrivelmente atraente.
Nada que eu ou qualquer um de nós fale expressa o tamanho do talento deste homem. Fico imaginando o que se passou na sua cabeça enquanto escrevia Dom Casmurro e criava "traição"
de Capitu. Suponho que nem mesmo ele tenha decidido se a moça foi fiel ou não, deixando a cargo dos leitores a conclusão. Delicioso, interativo, genial...é tudo que falta nesta era de livrinhos de "auto-ajuda" que vivemos.
E sabe de uma coisa? Eu acredito cegamente na fidelidade da moça de olhos de ressaca.
E viva Machado hoje, amanhã e daqui mais 100 anos. Tomara que os netos de meus netos saibam quem foi esta figura.

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Troféu Competência 2008

- Muito boa noite, senhores e senhoras. Agradeço aos presentes que nesta noite abrilhantam nossa festa! Sem mais delongas, vamos ao momento mais esperado, a entrega dos prêmios...Afinal, foi para isso que nos reunimos hoje!!!

- (Rs ....rs...rsss. risos forçados da platéia)

- Na categoria “Vou estar verificando”: A única, inigualável, aquela em que a operadora diz :”Senhora, sua linha está bloqueada, mas não consta nenhum defeito. Vamos estar verificando em até 48 horas. Gostaria de estar recebendo o número de seu protocolo via torpedo? Vai estar chegando em até 24 horas !!!”Ela mesmo, a super star, Craro !!!!

- (Clap Clap....aplausos da platéia seguido da entrega do prêmio...choro ... etc e tal....)

- Agora na categoria “Informação Inútil é comigo”: Aquela que dentre as suas concorrentes é tida como a melhor, aquela que reduziu o preço de seus cartuchos porque é muito nobre..., Aquela onde o atendente diz: “Senhor, entra em nosso site e procura na lista o driver que o sr. necessita, mas já vou lhe avisar que lá não tem, o sr. não vai encontrar.” A supra sumo das marcas de impressão: Lexmarka !!!

- (Mais aplausos da platéia, seguido de comoção e lágrimas no canto do olho !)

- Agora na categoria “Eu faço o cliente de otário mesmo!”, a ganhadora de mais troféus ao longo desta premiação, imbatível, aquela em que o operador diz: “A senhora deve estar tirando o telefone da tomada. Tem extensão? Com fio ou sem fio? Tira da tomada. Espere 5 minutos e ligue de novo. Já deixou? Pode desligar seu Modem? Tira da tomada também. Ok, não resolveu? Vou estar abrindo um chamado.” E aí quando você acha que já foi feita de palhaça o bastante, alguém bate a sua porta, porque eles tem enganadores em domicílio! É fantástico. O funcionário olha e diz: “Senhora, vim arrumar seu modem. Estava quebrado não é? Não? Como assim? Está aqui na sua ficha!”
- Só pode ser ela platéia... A grande Telefon-zica!! Sempre, em primeiríssimo lugar, porque eles se esforçam para se manter no topo de nossa lista.

- (Mais comoção e lágrimas na entrega do prêmio seguido de muitos aplausos da platéia.).

- E assim termina a premiação deste ano, mas não se iluda, ano que vem tem mais!

Escrito a pedido do Esposo, que passou os últimos dias indignado com o tratamento recebido nos SACs e Suportes on-line da vida. Tentamos, mas não foi desta vez que conseguimos resolver o problema sem ficarmos extremamente irritados!! Ah, só para constar, quem resolveu o caso da impressora foi esposo mesmo...inteligente esse moço...deve ser por isso que se casou comigo...hihihihi !!!



segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Meu Bebê


5 anos e meio. Esse tempo nos separava. Eu podia tê-la jogado do berço, por exemplo, mas não o fiz. Motivo teria, ora essa! Era a filha única, neta única, sobrinha única, tudo era meu. Por que então agora teria que dividir tudo com ela?
Mas assim aconteceu. O bebê gorducho e de olhos tão azuis quanto os meus chegou. E se instalou de mala e cuia em minha vida, e de toda a família. Audácia pura.
Agora não havia mais nada a fazer. A não ser dividir tudo, quarto, brinquedos, mamãe. Esperar o leite ferver ao lado do fogão, tarde da noite, preparando seu “Cremogema” sabor morango. Era preciso colaborar. Emprestar meus brinquedos. Parte difícil essa, pois o ser minúsculo e bochechudo era também destruidor. Certa feita, eu tinha na caixa ainda e com os plásticos de proteção do cabelinho lindo e loiro intactos, uma boneca que engatinhava, andava, pedalava na bicicleta e ainda cavalgava num cavalinho. Teríamos uma longa amizade e mil brincadeiras, não fosse o fato do pequeno ser ter arrancado o braço de minha boneca, sem dó nem piedade.
Assim o tempo passou, entre brigas e brincadeiras, segredos compartilhados, bons momentos, outros nem tanto. A vida nos separou, ela teve o prazer de morar com a vovó, bom, eu também o tive em certos momentos, muitos, aliás, mas essa é outra história.
O bebê cresceu, tornou-se uma mocinha bonita, popular, de quem todos queriam ser amigos. O telefone era sempre pra ela, mil compromissos, sorrisos, paqueras, corações partidos (por ela). Roupas cor de rosa, pink, e suas variantes davam o tom da “Penélope Charmosa” que o bebê pentelho se tornou. Sempre fazendo sucesso, deu-nos alguns sustos, que me fizeram perceber que ela era sim, deveras importante, e que eu defenderia sua vida como ou mais faço com a minha.
Muitos namoricos e agitos depois, a mocinha encontra um mocinho parecido com ela no jeitinho leve de levar a vida, meio ao sabor do vento, e passou a agir estranhamente. Sua vida social foi mudando, seus planos também, amigos e agitos foram deixados de lado, e quando menos esperei, lá estava a garota: calma, tranqüila e devotada a uma única pessoa: seu namorado.
Este depois ganhou o título de noivo, e a vida seguiu. Muita coisa aconteceu, e embora ela ainda pareça o mesmo bebê gorducho de sempre, a mocinha hoje está de casamento marcado.
Meu bebê, aquela que é minha cópia aloirada, a quem eu tanto quis ensinar e defender estará em breve se tornando uma “senhora”.
Irmãzinha, quando foi que você se tornou adulta o suficiente pra assumir tal compromisso? De onde tirou tantas certezas nessa vida? Onde eu estava que não vi a vida correr desse jeito?
Ontem a vi reclamando que o noivo é um “pidão”, que para tudo quer sua ajuda, e ri secretamente. Você não sabe o que está por vir. Um casamento faz com que os pedidos tripliquem de tamanho, a todas as horas. Mas tem suas compensações minha linda, você verá!
Quanto a mim, espero ter pela vida afora milhões de outros motivos para sentar e escrever sobre sua vida cor-de-rosa, suas vontades e manias, e principalmente sobre a nova família que irá começar !!

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Reflexões no Coletivo

Num espreme-aperta, enlouquecedor e sem nada pra fazer, a não ser ter paciência, pus-me a divagar, deixar o pensamento voar. (Isso ajudaria a esquecer o peso de minha sacola, que segurava com esforço).
Por que as pessoas fingem que dormem? Somos todos livres, independentes, usufruímos o livre-arbítrio, nascemos com o direito à vida irrevogável (até o primeiro calibre 38 desvairado atrás de dinheiro fácil.). Então por que precisamos fingir que dormimos para não ajudar o próximo?
A senhora perto dos 40 anos, bonita e cheia de anéis nos dedos abre os olhos, segura-se durante as freadas, depois joga a cabeça pra trás, fecha os olhos e volta a sonhar com os anjos. Próxima curva, o mesmo ritual. Abre os olhos, verifica onde está. Longe ainda de casa. Volta a dormir. Ignorando solenemente aqueles que estão em situação desfavorável, em pé e carregando peso.
O moço ao lado, um pouco mais novo e com um nariz mais avantajado faz o mesmo, mas não disfarça tão bem e permite-se olhar em volta, como que curioso pela situação e pelas pessoas ali tão próximas. Igualmente não faz nada para ajudar.
A jovem estudante se equilibra com sua pilha de cadernos nas mãos, enorme bolsa nos ombros, salto e maquiagem impecáveis, segura-se como pode. Outra mais novinha segura-se com uma mão e com a outra atende ao telefone celular. Mamãe. Convite para ir ao shopping recusado. A mocinha prefere malhar na academia a curtir umas horinhas vendo vitrine com a matriarca da família.
Assim todos vão chegando aos seus destinos. Uns fingindo que dormem, outros fingindo que acreditam.
Eu, tento acreditar que aqueles que fingem um sono “profundo”, o fazem por cansaço, e não por maldade. Porque se não atribuir essa falta de consciência coletiva ao fardo que carregamos diariamente, chegaria novamente a conclusão de que o ser humano não tem respeito com seu próximo. E mesmo tendo esta verdade esfregada na cara todos os dias em diversas situações, estou sempre tentando acreditar e dar novo voto de confiança a nossa espécie tão peculiar.
Eu mesmo devo ter feito isso em algum momento. Afinal, quem não tiver pecado que atire a primeira pedra.
Um dia de estresse, de problemas no trabalho, ou mesmo por distração já devo ter deixado alguém carregar suas sacolas como bem pudesse fazer.
Mas minhas reflexões não apagam minha decepção por naquele dia, naquela hora em que precisava chegar rápido por isso optei por ir em pé, não achei nenhuma criatura capaz de ajudar.
E sabem de quem é a culpa?
Da Fiat, que faz um carro tão frágil e propenso a quebrar, que de novo me deixou a pé. Ou melhor, de lotação.