Há muitos anos atrás, lá no século passado, em algum lugar desta selva de pedras vivia uma garota entediada. Suas tardes sozinha em casa a estavam deixando maluca.
Foi aí que sua mãe resolveu matriculá-la em um curso de artesanato, numa escolinha de bairro. A menina aprenderia pintar panos de prato na escola da dona Jane.
Muito empolgadas com a situação, menina e mãe juntas compraram vários panos brancos e uma infinidade de tintas “Acrilex”, pincéis de várias espessuras, chanfrados, redondos, chatos, garota estava se sentindo a “Da Vinci” dos tempos modernos.
Na primeira aula a garota chegou tímida e sentou-se no canto. Era a única com menos de 50 anos na sala. Mesmo assim observou direitinho como fazer o riscado do desenho, fez igualzinho fora mandada. E começou sua arte. Foi aí que percebeu que era impossível se concentrar no trabalho. O motivo? A legião de senhorinhas que não paravam de fofocar sobre o bairro inteiro. Como se a mesa da escola fosse do chá da tarde elas tricotavam sobre tudo e todos. A menina se esforçava, mas não conseguia a concentração necessária. As velhinhas ficavam em polvorosa enquanto pintavam.
Algum tempo depois ela já contava com três panos de prato lindamente pintados e assinados por ela. Dois de frutas e um de flores. Mas aí ela não agüentou mais. Sumiu das aulas. Pois já andava sonhando com as velhinhas fofoqueiras do artesanato.
E os panos que ela pintou?
Estão num museu de Londres e valem milhões. São verdadeiras obra de arte, viraram relíquias da pintora de três panos.