terça-feira, 11 de novembro de 2014

Registrar é preciso!


Não foi uma escolha consciente, do tipo: "Pronto, parei.". As coisas foram acontecendo e a cada dia um post era deixado de lado. Foram muitas histórias prontas na minha cabeça, que deixaram de ser escritas por pura falta de tempo. Ou de empenho. Sei lá.
Mas aqui estou.
Helena conta hoje 9 meses. Acabou de completar. Esperta que só ela. Tanta coisa aconteceu...vamos recapitular?
* Aos 5 meses sentou. cambaleante, mas tava lá. Sentada da cama da mamãe.
* Com 7, quase 8 meses, rompeu o primeiro dentinho. O segundo veio logo atrás. e hoje já se igualaram. Ainda estão sozinhos. Nenhum ouro apontou por ora. Eu não tenho pressa. Tá bom demais assim.
* Cabeluda que só ela, vive despenteada. Mamãe não é tão caprichosa e não tem tempo mesmo de ficar arrumando cabelo de criança. Porque eu arrumo e em 5 minutos tá tudo bagunçado de novo.
* Assim como PL, Helena vive descalça. Fato. Quando começar a andar a gente resolve isso.
* Saiu do mamá no peito agora com 8 meses. Por escolha minha, quando ela contava com pouco mais de 6 meses introduzi de fato a fórmula. A noite, pois dormir estava complicado. Na verdade, depois dos 5 meses Helena não sabia se mamava ou se prestava atenção no mundo. Aliás, mesmo com mamadeira ela ainda é assim. Complicado.
Eu comemoro e me orgulho dos 8 meses no peito, sendo 6 em aleitamento exclusivo. Nos primeiros 6 meses, ela tomou (ou essa era a intenção) fórmula umas 3 vezes, quando necessário. Não gostava. Eu achava ótimo. Depois a vida nos empurra, as coisas vão acontecendo e tudo se encaixa.
* Alimentação é um ponto delicado para ela. O início da IA foi tenso. De tudo o que ofereci ela só gostou de água.
Hoje já come melhor, o que não quer dizer que esteja bom. Estamos longe do ideal. Não entendo
Não gosta de coisa muito amassada. Curte mesmo um pedacinho rolando na boca, curte amassar a banana com a mão, fazer muita meleca. Essa é a Helena. Ogrinha de mamãe.
* Dorme bem. Quase sempre dormiu. Tem lá seus momentos serenata madrugada adentro mas...para um bebê dessa idade tá excelente.
* Helena vive cada fase intensamente. Os tais picos de crescimento? Ela tem todos. São visíveis. Agora ela vive a ansiedade da separação. Se viro as costas pra ela, o mundo acaba. Chora como se não houvesse amanhã. Se a deixo com o pai ela fica bem. Até me ver e ai o chororô recomeça.
Minha pequena é saudável e feliz. Disso não há dúvidas. Sempre bem disposta, feliz, risonha, simpática demais. Voluntariosa também. Determinada. Vejo nela uma vontade de ver a vida, uma coisa linda. Cada vez que seus olhinhos veem algo pela primeira vez, eles adquirem um tom único. Brilhantes, atentos, vivos. Eu me apaixono cada vez que ela vê alguma coisa nova.
* Aos 9 meses já bate palminha. Pra qualquer música, mas a preferida é "parabéns pra você". Uma coisa linda de viver.
* A relação com o irmão é delicada porém feliz. Eu incentivo o contato entre eles desde que ela nasceu. Deixo juntos e as vezes sozinhos. Fico por perto, de olho, mas acho importante que eles se conectem. Se ela acorda primeiro, vamos juntas no quarto dele e deitamos na cama junto. Eles adoram. E o contrário quando ele acorda primeiro.  Ela curte muito fazer bagunça com ele,  mas quando PL se cansa da companhia, Helena acaba levando uns cascudos. Mesmo assim, ela não pode vê-lo. Fica enlouquecida, solta gritinhos, dá risada. Uma fã! Sobre eles, acho que o pior já passou. As crises de ciúme se tornaram mais administráveis. Já sabemos lidar com elas. Tenho calafrios de lembrar do início. Quanta lágrima eu verti. Ufa, passou!
E assim vamos indo. Cada dia novo. Cada dia igual. Cada dia diferente.
 
E essa sou eu! #8meses
 

quinta-feira, 24 de abril de 2014

O nascimento de Helena



39 semanas e um dia. Foi o tempo de gestação da pequena Helena. Nasceu numa quinta-feira, 06 de fevereiro de 2014, em um dos verões mais quentes da nossa história.
Foi como devia ser. Como nós achamos que seria melhor pra nossa família. Na segunda que antecedeu o parto, deixamos acertado com a médica. Se não entrasse em TP até quinta, faríamos o parto naquela noite. Ali eu sabia que seria então esse o dia do nascimento da pequena. Um misto de medo e ansiedade tomou conta de mim, que só sabia chorar. Decepção por marcar a hora, justo eu que sempre condenei a prática. Mas o fato é que seria o melhor. Não estava nas melhores condições. Nem físicas e nem psicológicas. Fato que ficou claro na consulta de segunda que durou quase uma hora e dona doutora não sabia mais o que fazer para que eu parasse de chorar. Enfim. Poucas pessoas souberam do que ia acontecer. 
Um medo enorme chamado Pedro Lucas me assombrava. Pensei e repensei nas estratégias para que ele se sentisse o menos "abandonado" possível. O levei na escola normalmente, dirigindo como todos os dias, e depois fui arrumar o que ainda estava pendente. Vovó o pegaria na escola, daria banho, janta e depois iria para o hospital. Eu fazia questão que ele estivesse por perto. 
Marido chegou e rumamos para o hospital no final da tarde.
Eu estava tensa. Queria que acabasse logo e me culpava por isso. Quando desci (ou subi, juro que não sei) para o centro cirúrgico, marido foi se paramentar e fui para uma sala de pré-parto. Enfermeira ofereceu ligar a TV. Eu recusei. Foi a melhor escolha que fiz. Ali, no silêncio do CC, eu senti a paz que tanto procurava. Era um silêncio acolhedor. Pra mim, foi o bálsamo que precisava pra me tranquilizar. Eu iria entrar em uma nova cesárea e ia sair bem e saudável pra cuidar dos meus dois filhos. Era certo. O medo caia por terra. Era isso que bastava, e todo o resto virou, efetivamente, resto.
Marido entrou. Logo, o médico auxiliar veio se apresentar. Trocamos umas palavras e ele se foi. Veio a enfermeira e lá fomos nós.
O curioso de se passar por um procedimento cirúrgico pela segunda vez, é que da primeira você não sabe direito o que vai acontecer, e não encana tanto. Na segunda, você acha que tudo vai dar errado, e entra em pane. Loucura total. 
E assim, às 20:29h Helena chegou neste mundo. 46 cm e 3.135 kg. Fofa, linda e forte! 
Depois da recuperação, fui levada de volta ao quarto, onde logo chegaram mamãe, marido e Pedro Lucas. Eufórico, correndo, meio assustado com tanta novidade, ele me olhou com curiosidade, conversamos sobre a chegada da Heleninha, e eu vi que tinha feito o melhor pelos meus pequenos. Pedro esteve nos bastidores o tempo todo. Viu a irmã assim que ela desceu para o berçário, viu o banho, me viu logo após o parto, viu onde a mamãe estava e foi embora tranquilo. Dormiria sozinho com o papai naquela noite. Meu coração estava em paz.Vovó dormiu comigo e Helena ficou conosco a noite toda. 
Na sexta-feira algumas coisas saíram do controle. Não conosco. Mas tivemos uma morte na família e marido precisou viajar. Infelizmente uma das bisas de Helena não conseguiu conhecê-la. 
A viagem dele desestruturou nosso esquema para o bem-estar do PL. Mas improvisamos bem, e com ajuda de minha irmã e mãe, tudo deu certo. 
Domingo de manhã estávamos indo pra casa. Dessa vez com a família completa.
Todo o medo, angústia, e preocupação deram espaço à gratidão a Deus por tudo que ele nos deu. 
Tudo o que eu não planejei, mas aconteceu. Muita coisa saiu do curso normal, coisas que eu não queria relatar. Tentei várias vezes escrever sobre o nascimento de Helena e depois desisti. Porque queria só escrever coisas boas. Mas depois entendi. Não adianta tentar descrever uma cena de cinema. Porque não foi assim. A vida real não é um comercial de margarina, infelizmente.
 Mas é assim., com altos, baixos, imprevistos e tal. Mas foi lindo. Da maneira como tinha de ser.
E hoje, vendo um bebê tão saudável e feliz em casa, voltei a ter certeza das minhas escolhas e me lembrei de algo muito legal que ouvi na época em que Pedro nasceu: o nascimento é só o portal da vida. Ali é o ponto de partida. Apenas a partida. Sou agora responsável por todo o percurso que minha filha vai percorrer. E vou fazer com que seja o melhor possível.
Bem-vinda, filha!
Não te garanto somente momentos bons, porque não tenho total controle sobre isso. Mas garanto meu colo e meu abraço sempre que a vida lhe machucar!


segunda-feira, 24 de março de 2014

Helena e o banho de chuveiro.

Era uma sexta-feira. Com papai em casa, tudo devia ser mais tranquilo. Mas não foi. PL resolveu vomitar. Primeiro no carro, causando um pequeno terremoto fedorento. Depois em casa. No tapete da sala. Ele não lida bem com essa coisa de vomitar. Fica mal, chora, tem medo. E no meio daquilo de limpar, consolar o menino, dar banho, tinha a pequena Helena. Que resolveu que era hora de fazer o peso dela em cocô. E espalhar pela roupa toda. 
Num ataque de praticidade, pedi pra marido tirar a roupa da criança número 2 que ela ia ser a próxima no banho. No chuveiro mesmo. Água corrente é o melhor remédio, além de ser o que dava pra fazer na hora. Muito mais prático. Tirei minha roupa e entrei com a menina no banho. 
Pausa. 
Com 40 dias de vida, Helena A-do-rou o banho. 
Despausa.
Ficou inebriada olhando pra água que caia. Nem uma lágrima. Nem um assombro de medo. Só ficou olhando e curtindo em silêncio. 
Eu? Adorei a experiência. 
Nos dias que se seguiram, resolvemos continuar com o banho de chuveiro. É muito mais prático e prazeroso. Não preciso encher banheira, ficar com medo que a mangueirinha escape e molhe o quarto todo, nem limpar depois do banho, passar álcool e tal. 
E eu também descobri uma coisa: Banho de bebê pode ser prazeroso. Porque pra mim, nunca foi. Nunca vi a graça que a maioria das pessoas veem. Sério mesmo. Sempre me foi uma obrigação regada a choradeira. 
Mas ali, no chuveiro, pele com pele e um bebê curtindo, eu pensei que a hora do banho devia ser sempre assim. 
Não consigo descrever a carinha de sapeca e tranquilidade que Helena faz quando tá ali, aninhada nos meus braços. Ela confia. Não sente medo. Apenas aproveita o momento. Os olhinhos dela parecem me dizer: "- Eu confio em você."
Outro dia, percebi que ela estava bebericando um mamá enquanto tomava banho. Encontrou o peito e não pensou duas vezes. Morri de amores.
E assim vamos indo. Cada dia uma descoberta. Dois bebês. Tudo igual, tudo diferente. 
Claro que esse esquema depende de um segundo adulto pra funcionar. Mas é simples. Hora do banho é a hora que estamos todos em casa, de preferência no começo da noite. 
Aliás, ta aí outra coisa que eu nunca gostei: dar banho no bebê de manhã, ou logo depois do almoço. Sei lá. Nunca me fez sentido isso. Banho deve ser pra relaxar e limpar. Pra mim, nada melhor que estar limpo e relaxado antes de se deitar para dormir. Não tem coisa mais gostosa que tomar um banho e cair na cama. 
Então, aqui o costume é esse. O calor foi embora, acabaram os milhares de banhos diários nas crianças (reservatórios de água agradecem), vamos estabelecer uma rotina toda nossa. Com banho coletivo. E muita curtição. 

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Recortes dos últimos 20 dias! (Os primeiros de Helena)

* Clichê total: Não tá fácil! Mas não tá mesmo! Sendo bem franca: Algumas vezes por dia tenho me perguntado o que eu fiz da minha vida! No auge da crise. Depois passa. 

** Como mãe de segunda viagem, no que tange os cuidados com o bebê, isso sim, é mais tranquilo. E falo do basicão mesmo: identificar o choro, trocar, dar banho, ouvir orientações do pediatra (e discordar), quanta tranquilidade adquirida com a experiência. 

*** A soma de Pedro + Helena vivendo sob o mesmo teto ainda é delicada. PL sente ciúme, claro! A cada visita que chega, mesmo a família sempre presente, é um show. Ele grita, quer se aparecer, faz cena e depois se acalma. Quando estamos só papai-mamãe-bebês, aí sim ele é outro. Maduro, quer ajudar, segurar, um fofo! 
Ontem eu estava ao telefone na varanda. Bebezinha começou a chorar. Ele foi até o carrinho, olhou, deu beijinho no pé. Ela não parou. Ele repetiu o beijo e saiu. Voltou. Olhou de novo e disparou:
-Ô mãe, vem cá, ela quer você! 
Ele a defende, acho que vai ser um irmão protetor. Hoje pela manhã amamentei na cama dele. Ele pegou um urso e imitou a cena da amamentação. Inclusive com uma almofada embaixo do urso, pra apoiar.

**** Eu falei em visitas aí em cima? Acabei de ganhar uma lição de vida: Experimente estar num momento feliz porém delicado, acrescido de um problema familiar gigante. Some o puerpério, os cuidados com a casa, o filho mais velho, e tudo o que você tiver de complicado. Aí olhe em volta. Você vai perceber que as pessoas que lhe estendem a mão pra ajudar são: a família (se você tiver uma abençoada e unida como a minha, claro) e poucos amigos que você vai contar com os dedos da mão. 
O restante você descobre que não são amigos. Apenas dividem o mesmo ambiente ou coisa parecida. E que algumas pessoas realmente não sabem olhar em volta. E que discurso bonito quando você tá bem não te acresce em nada. Enfim. Viva quem te ama e te ampara. Abstraia o resto. 

***** A minha culpa em relação ao Pedro ainda não passou, mas diminuiu. Estou tentando trabalhar isso dentro de mim. Não é fácil. Há momentos em que a dor de deixá-lo de lado tão pequeno, tão indefeso me consome. E eu choro. Amargamente e compulsivamente. 
Espero um dia abrandar essa culpa. Que agora já é dobrada. Sim, porque pra fazer um dormir, tenho que deixar o outro. Pra banhar um, o outro tem que ir pro carrinho. E há choro. Há necessidade não suprida. Há culpa. Há dor. De todos os lados. Se é exagero? Talvez. Mas hoje é assim que sinto. 

****** Tenho lido algumas teorias sobre maternidade. Vale um post só pra isso. 

E assim vamos indo. Todo dia igual. Todo dia diferente. Como deve ser! 

sábado, 15 de fevereiro de 2014

A nossa despedida!

Você dormiu no sofá. Eu me sentei ao seu lado, sala iluminada apenas pela TV. Só nós dois em casa. De repente, um barulho te incomodou. Você levantou sonolento, encontrou meu corpo e se aninhou, meio sentado, meio apoiado em mim. Cheirei seu cabelo. Senti uma saudade quase insuportável invadir o peito. Algumas lágrimas rolaram e molharam seu cabelinho cheiroso. Fiquei ali, abraçada a você, pensando que muito em breve não seríamos apenas "uma mãe e um filho". Em pouco tempo seríamos "uma mãe e dois filhos". Tudo dividido. Tudo multiplicado. E essa conta parece não fechar.
Papai chegou e te levou pra cama. Mesmo sem precisar porque você já dormia, me deitei ao seu lado. Pra somente te sentir. Agora já não eram algumas lágrimas. Mas um choro copioso. Chorei de alegria e gratidão pela tua vida, de tristeza porque em breve minha atenção pra você será diminuída, de saudade antecipada, chorei pedindo perdão por tudo o que fiz de errado com você, chorei. Chorei porque quando os sentimentos são grande demais eles transbordam em forma de lágrimas. Chorei porque você não é mais um bebê, só que ainda é. Você me entende? Pra mim, você sempre será um bebê. 
Chorei de medo de te machucar, de te traumatizar. Chorei porque me senti incapaz de dar conta de dois bebês. Tudo junto e misturado agora. 
Seu travesseiro ficou molhado pelo tanto que meus sentimentos sobejavam. 
Uma das coisas que mais temo nessa vida é te machucar. Eu queria muito uma bolha mágica que te protegesse de tudo o que é ruim nesse mundo. 
Enfim. Depois de tanto chorar, te deixei dormindo. O sono mais tranquilo e alheio a tudo o que eu fazia ou sentia ali do seu lado. 
Meio sem querer isso acabou sendo nossa despedida de "mãe e filho único". Não tivemos mais outro momento assim, tão nosso, tão intenso e tão particular. Logo depois sua irmã chegaria nesse mundo. Mas esse é outro assunto. 
Meu filho, mesmo que a atenção seja dividida, o amor é multiplicado. Sempre. todos os dias. Mesmo que para isso eu precise de quatro braços. Ou ficar sem dormir. Pra vocês eu darei o melhor de mim. 

*** Em tempo: Helena nasceu dia 06/02/14. Estamos bem. Sobrevivendo aos primeiros dias. Com grandes turbulências familiares em volta de nós. Mas creio na vitória. ***

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Se não for amor, não sei o que é!

Hora do banho de Pedro Lucas. Estoque de sabonete nível zero. Abro o armário de Helena e pego um sabonete entre os presentes que ela ganhou no chá de bebê. Vou para o banheiro e a seguinte cena se desenrola:
- Pê, tem sabonete novo pro banho, hoje!
- Oi? (ele agora está com a irritante mania de responder tudo com oi).
- Sabonete novo.
- Hã? Mas é da Nininha. (sim, ele sabe tudo o que tem no armário. Já cansou de ir xeretar e brincar por lá)
- É, mas a mamãe pediu pra ela, e ela deixou. (simulo uma conversa com a barriga, ele ouve atentamente e aceita o banho com o sabonete da irmã).
- Nininha, qué banho, qué? Tira mamãe, tira. Avá Nininha.
(Eu levanto a camiseta e mostro a barriga. Ele pega um pouco de sabonete nas mãos e passa uns 5 minutos "dando banho na irmã - lavando a barriga com toda a paciência do mundo")
- Ponto. Tá impa. Fecha mamãe. 

*** cataploft *** morri de tanto amor! 

Tapa na cara da sociedade que acha que irmão mais velho tem que sentir ciúme de tudo! 

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

E esse tal de rolezinho, hein?

Nos últimos dias o noticiário ganhou uma pauta recorrente: os tais "rolezinhos" dos adolescentes das periferias de São Paulo. Eu, como consumidora voraz de informação acompanhei diversas matérias e opiniões sobre o assunto. Confesso que poucas vezes vi tanta bizarrice junta. Sim. Está chovendo "análises" do "fenômeno político-cultural" que não tem nada de político, muito menos de cultural. Luta de classes. Preconceito racial. Gente, tá difícil. Quer a opinião de quem mora a vida toda nesta metrópole velha de guerra? Senta que eu te conto.
Rolezinho em shopping sempre existiu por essas bandas. Todo adolescente, rico ou pobre, já foi passear no shopping com os amigos, já foi namorar, ao cinema, comer, bater papo olhando vitrines. É uma coisa normal em um lugar onde não há praias, os parques são de número reduzido (e a maioria que é frequentável está longe da periferia), teatro ainda é coisa de poucos, museu então, nem se conta. Enfim. Há muitos anos existe a cultura de passear pelos corredores de shopping. Eu fiz parte desta turma. Frequento os centros de compras em companhia de amigas desde os 13, 14 anos de idade. Posso te dizer com propriedade. Pobre nunca foi barrado na porta única e exclusivamente por ser pobre. Claro, existem os shopping de elite, de classe alta, mas que na boa? Cada um sabe onde coloca o nariz. Eu nunca quis frequentar um lugar onde me sentisse uma estranha, deslocada dos demais. Simples assim. Não vou atravessar a cidade para visitar um lugar onde não me encaixo. 
A questão que está pegando nessa modinha dos rolezinhos atuais, é que os jovens extrapolaram os limites do bom senso. Uma coisa é marcar um passeio com uma turma de amigos, outra é marcar um evento público com mais de seis mil confirmações de presença, num espaço privado para usa-lo com outros fins diferentes do que se destina. Sim, porque o shopping é um lugar aberto ao público, mas tem dono e tem regras. Não dá pra entrar fazendo algazarra, incomodando, ouvindo música alta, etc. E isso independe da análise dos intelectuais de que o shopping é um templo de consumo e blá, blá, blá. Antes de ser qualquer coisa, é uma instituição privada, onde empresários investem seu dinheiro, oferecem empregos, fazem a economia girar e vamos combinar, muitas vezes facilitam e muito nossas vidas. É um fato. Contra fatos não há argumentos.
Imagina você dentro de um shopping. Seja por que motivo for. De repente, uma turba de pessoas correndo e gritando, cantando versos de músicas chulas e desrespeitosas aparece na sua frente. A polícia tentando agir sem saber bem como. Todo mundo embasbacado com a nova situação. Você acha isso um fenômeno cultural? Eu acho perturbação da ordem. Vandalismo. Quem quer se divertir não precisa de milhares de amigos pra "tumultuar" - palavra usada pelos próprios organizadores dos eventos. Aliás, eu li entrevistas com diversos participantes do movimento e nem eles concordam com isso. A maioria acha que a coisa está se perdendo e alguns já estão desistindo de participar disso. Em parte pelo medo da polícia, não vou negar.
Quer uma prova que a coisa descambou? No último final de semana, temendo a represália, os jovens mudaram o local dos encontros. Iriam ao Parque do Ibirapuera. Teve 3.000 confirmações. Cerca de 100 jovens apareceram. Havia mais imprensa do que adolescentes. Por que será? A meu ver, a coisa perde a graça se não der pra tumultuar. Ah, em tempo: Eu também fazia "rolezinho" com amigos no Ibirapuera, carinhosamente chamado de "Ibira".
Observando os vários shoppings que tenho conhecimento, posso te provar que existia paz nos rolezinhos de grupos menores. O shopping Leste Aricanduva recebe todos os finais de semana esses jovens no melhor estilo funkeiro. Quem já passou por ali no sábado e se atentou bem ao fundo da praça de alimentação, na escada que dá acesso à Lojas Americanas, viu jovens que costumam se reunir pra paquerar (usando uma expressão antiga, porque o negócio agora é pegar), conversar e sei lá mais o que.
O shopping Metrô Tatuapé é um reduto de jovens casais (hétero e homossexuais) que se encontram ali na entrada do estacionamento. Ficam lá de papo, alguns ensaiam gestos de carinho, socializam e eu nunca soube de nenhuma intervenção mais grave, salvo casos de necessidade.
O ABC Plaza em Santo André recebe centenas de jovens daqueles com caras tristes e roupas pretas. Que usam uma franjinha cobrindo os olhos.  Saem dali e se dirigem ao parque Celso Daniel, em frente ao shopping. Voltam. E vão de novo. Nunca ouve notícia de confusão maior.
Até que justamente em Itaquera, um dos bairros mais pobres da capital a coisa ferveu. Gente, é ridículo falar em preconceito racial ou de classes dentro de Itaquera. Volto a dizer: a coisa ferveu porque houve excessos. O próprio Shopping JK recebe muitos "pobres". É um tiro no pé do empreendimento barrar qualquer possível comprador, mesmo que seja de um Big Mac.
O que eu entendo disso tudo? A mídia, essa voraz "formadora de opinião" logo se dividiu em duas. Uma apoiando, outra achincalhando. O governo, claro, em ano de eleição mais importante do país, não quis se indispor com a "massa", que é de onde lhe saem a maioria dos votos. Criticou, depois voltou atrás. Pobre da nação comandada por interesses políticos. Os entendidos em fenômenos políticos e sociais, ávidos por assunto inventaram uma tal luta de classes. Na boa? São só pessoas assustadas. De ambos os lados. Uns querem se divertir. Mas não entendem muito bem o que são limites. Outros querem ter o direito de frequentar em paz um local onde possam comprar, comer e passear. É justo. Independente de ser ou não ostentação, consumo desenfreado e tal. E também independe de ser em um shopping em Itaquera ou no Morumbi. Cada um oferece algo que as posses da região permite. 
Como mãe, eu proponho um exercício de pensar: Quem quer estar dentro de um local fechado, com corredores estreitos, puxando seus filhos pela mão e de repente se ver no meio de um quebra-quebra com milhares de pessoas correndo em sua direção? Como ter certeza de que o "evento" dos jovens vai ser de paz? Que não há arruaceiros ali no meio? (E já foi comprovada a presença deles, infiltrados no meio do movimento, assim como nas manifestações do meio do ano).
Eu quero segurança e comodidade. Pagamos por isso. Eu, você, e o próprio menino do rolezinho, que na sua maioria adora comprar roupas de marca - dentro do shopping. 
Falar em preconceito racial nesse caso também é risível pra mim. Na periferia não há só negros. No funk não há só negros. Aliás, de todos os entrevistados que eu vi fotos, nenhum era. Existe pobre de todas as raças. Nasci e cresci na periferia, sempre estudei em escola pública, e a coisa não é dividida entre negros e brancos. Acredite. Há de tudo. 
Isso tudo é o que eu penso. É o que eu vejo. Não concordo com pessoas que ao invés de lutar contra a corrente, se rendem ao mantra: "Sou pobre mesmo, sou filho do sistema". Acho triste. Conheço muitos exemplos bacanas de pessoas que não sucumbiram ao rótulo de "preto - pobre - favelado". Pra mim, e sempre disse isso, pobreza é estado de espírito e não de conta bancária. 
E acho também, que muito do que acontece hoje é reflexo do que nosso atual governo criou com suas N bolsas-alguma coisa. "Ah, você matriculou seu filho na escola? Toma aqui essa esmolinha. Vá gastar. E não precisa acompanhar o rendimento escolar do seu filho, nós não o reprovaremos. Fica entre nós."
Gente, eu tenho tanta opinião. Mas isso é outro papo, por hoje já me estendi demais.