quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Pequeno Grande Homem


Ele estava ali já há bastante tempo. No mesmo cantinho, quieto, com olhinhos pequenos e apertados, que mal identifico se estão abertos ou fechados. Educado, sempre se levanta para cumprimentar de pé os que chegam. Educação de outrora, quase perdida nos dias de hoje. Poucas palavras, introspectivo, por vezes distraído, certamente culpa de tudo o que já viu e ouviu nessa longa jornada.
Quando aceitou Jesus em sua vida, contava 81 anos. Decidiu se entregar, mas foi logo avisando: “Não tenho estudo nenhum, vai precisar?”. Eu ouvi e abri um sorriso, amo de paixão essa pureza que sai de dentro do coração de alguns.
A resposta foi negativa, pra se entregar, basta querer. E assim ele o fez. Um banho nas águas e se tornava um cristão. Lavado e remido.
Tanto tempo ali, e eu não havia parado pra observar a beleza de seus gestos. Até ontem. Num repente, olhei com atenção e aquele senhor, já em idade avançada, um músico, de longa data, e muitos trabalhos vida afora. Com seu Triângulo em punho, acompanhava lindamente as batidas de todas as músicas ali entoadas. Parei para ouvir com atenção e além de escutar, vi seus movimentos, a precisão de suas mãozinhas pequenas e certeiras. Quanto talento escondido numa criatura tão pequenina. Cada acorde era feito precisamente, e eu pensei em porque nunca tinha reparado em tamanho talento.
Mas fiquei feliz por ter ao menos ontem, observado a essência deste senhor tão amável, que já idoso resolveu dedicar seu talento a Deus, e brindar nossos ouvidos com sua melodia.
Cada dia me convenço mais que a beleza da vida se revela quando menos espero. Quer saber? Que assim seja todos os dias. Uma pequena descoberta diária pra me fazer acreditar que a humanidade ainda vale a pena.
Ao senhor José, minha admiração e agradecimento.

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