terça-feira, 9 de setembro de 2008

Reflexões no Coletivo

Num espreme-aperta, enlouquecedor e sem nada pra fazer, a não ser ter paciência, pus-me a divagar, deixar o pensamento voar. (Isso ajudaria a esquecer o peso de minha sacola, que segurava com esforço).
Por que as pessoas fingem que dormem? Somos todos livres, independentes, usufruímos o livre-arbítrio, nascemos com o direito à vida irrevogável (até o primeiro calibre 38 desvairado atrás de dinheiro fácil.). Então por que precisamos fingir que dormimos para não ajudar o próximo?
A senhora perto dos 40 anos, bonita e cheia de anéis nos dedos abre os olhos, segura-se durante as freadas, depois joga a cabeça pra trás, fecha os olhos e volta a sonhar com os anjos. Próxima curva, o mesmo ritual. Abre os olhos, verifica onde está. Longe ainda de casa. Volta a dormir. Ignorando solenemente aqueles que estão em situação desfavorável, em pé e carregando peso.
O moço ao lado, um pouco mais novo e com um nariz mais avantajado faz o mesmo, mas não disfarça tão bem e permite-se olhar em volta, como que curioso pela situação e pelas pessoas ali tão próximas. Igualmente não faz nada para ajudar.
A jovem estudante se equilibra com sua pilha de cadernos nas mãos, enorme bolsa nos ombros, salto e maquiagem impecáveis, segura-se como pode. Outra mais novinha segura-se com uma mão e com a outra atende ao telefone celular. Mamãe. Convite para ir ao shopping recusado. A mocinha prefere malhar na academia a curtir umas horinhas vendo vitrine com a matriarca da família.
Assim todos vão chegando aos seus destinos. Uns fingindo que dormem, outros fingindo que acreditam.
Eu, tento acreditar que aqueles que fingem um sono “profundo”, o fazem por cansaço, e não por maldade. Porque se não atribuir essa falta de consciência coletiva ao fardo que carregamos diariamente, chegaria novamente a conclusão de que o ser humano não tem respeito com seu próximo. E mesmo tendo esta verdade esfregada na cara todos os dias em diversas situações, estou sempre tentando acreditar e dar novo voto de confiança a nossa espécie tão peculiar.
Eu mesmo devo ter feito isso em algum momento. Afinal, quem não tiver pecado que atire a primeira pedra.
Um dia de estresse, de problemas no trabalho, ou mesmo por distração já devo ter deixado alguém carregar suas sacolas como bem pudesse fazer.
Mas minhas reflexões não apagam minha decepção por naquele dia, naquela hora em que precisava chegar rápido por isso optei por ir em pé, não achei nenhuma criatura capaz de ajudar.
E sabem de quem é a culpa?
Da Fiat, que faz um carro tão frágil e propenso a quebrar, que de novo me deixou a pé. Ou melhor, de lotação.

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