quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Saudade de quem eu fui...



Eu não tinha este rosto de hoje, 
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios, 
nem o lábio amargo. 

Eu não tinha estas mãos sem força, 
tão paradas e frias e mortas; 
eu não tinha este coração 
que nem se mostra. 

Eu não dei por esta mudança, 
tão simples, tão certa, tão fácil: 
- Em que espelho ficou perdida a minha face?

(Retrato - Cecília Meireles)


Eu acho lindo essas mulheres que ao se tornarem mães se encontram na vida. Aquelas que sonharam a vida toda com casa, marido, filho e cerquinha branca em volta de tudo isso. Mulheres que nunca sonharam em ser professoras ou astronautas. Acho que é uma verdadeira vocação. Não ter mais ambições, aspirações e tal. 
Infelizmente, eu não sou assim. Ser mãe foi um desejo realizado, claro. Casar não era bem um desejo (quem me conhece sabe, eu SEMPRE achei que ia morrer encalhada). Enfim, eu construí uma família verdadeira e feliz. Nos amamos. Nos amparamos, como sempre deve ser. Mas, (sempre tem um mais) paralelo a isso, eu sou um ser humano. Que caminha, respira, pensa como um ser individual. Alguém que além de ser mãe e esposa é mulher. É um ser pensante. Essa, aliás, é uma qualidade que muitas vezes me soa como defeito. Ser pensante. Por vezes pensar demais não é muito legal. Cansa. Entristece. Porque tem horas em que você pensa que pode ser mais do que é. Mesmo que o seu dia continue tendo 24 horas, você pensando muito ou não. Não é uma questão de desdenhar o que se tem, veja bem. Família é uma graça de Deus que deve ser celebrada. Mas muitas vezes essa rotina de dona de casa cansa. Essa coisa de correr atrás do rabo. Você faz, faz, faz e nunca acaba o trabalho. A TV a cabo tem 200 canais e nada enriquecedor passando. A rotina do lava-passa-cozinha é um tormento. Recolher brinquedos é tarefa eterna. E tudo se repete no dia seguinte. 
E tudo o que estudei, todo o conhecimento que absorvi, e todo meu potencial, fica aonde nisso tudo? Eu sempre me empenhei tanto pra ser bem sucedida. E tem horas que tudo me parece perdido. Horas, dias, anos em vão. 
Quando eu estou no ápice do dia, aquela hora em que você já não aguenta mais, eu costumo brincar com marido dizendo que eu podia estar nas aulas do Mestrado. Mas estou de pijama, correndo atrás de criança que não quer tomar banho. Ou pensando no que cozinhar pro jantar. Frustração define. 
E eu sou pessimista. Muitas vezes, eu só vejo pelo prisma de que já passei dos 30. Logo estou velha pra qualquer coisa interessante nessa vida. Eu sei que é exagero. Mas no olho do furacão, é assim que me sinto. 
Quando vi as chamadas para o filme sobre Elizabeth Bishop me senti uma burra. Eu estudei Bishop na faculdade, e simplesmente não me lembrava da passagem dela pelo Brasil. Como assim? Onde foi que eu guardei tudo aquilo que me orgulhei tanto em aprender? 
Talvez seja só uma questão de tempo até que as coisas se arranjem. Até que a situação melhore. Vai ser assim. Porque eu sei que posso mudar qualquer situação enquanto houver sopro de vida em mim. 
Mas as vezes é preciso deixar transbordar. Porque externar pode ajudar a resolver. Tem dias em que eu sou pequena pra guardar tantos pensamentos. É necessário colocar pra fora. Seja em forma de lágrimas, ou de palavras. 
Não é falta de gratidão, nem de amor. Não me entendam mal. 
É apenas excesso de pensamentos. 

10 comentários:

  1. Pois é, o mal é pensar demais. sempre digo isso. queria pensar um pouco menos...às vezes!!!!


    Beijosssssssssssssssss
    ┌──»ʍi૮ђα ツ

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    1. É Micha, pensar é ótimo, mas tem horas em que atrapalha!
      bjo!!!!

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  2. Ô, Tati, não fica assim. Pensa que é uma fase. Eu acredito em fases. E posso te dizer: é super possível conciliar trabalho, Mestrado e maternidade. Difícil à beça, mas é possível. :D

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    1. Sabe Dany, em também acredito em fases, mas só consigo observa-las qdo elas acabam, qdo passam! De dentro delas fica muito difícil! rs...eu vejo seu exemplo, acho mto bacana, pode apostar que te uso de exemplo!
      obrigada, sempre!

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  3. Essa história de pensar demais realmente deixa a gente pra baixo, às vezes. Compreendo bem. Apesar de você não acreditar, agora, essa fase vai passar. Minha esposa, depois dos anos mais "requeredores da mamãe" dos meninos, cursou uma pós-graduação, está cursando inglês e pretende cursar mestrado. A gente vai ficando velho, mas ainda rola um gás :-)

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    1. Marcelo, seu exemplo de vida é sempre muito legal! Lembro-me do seu esforço na época da faculdade, já vale uma lição!
      obrigada, amigo. Bjo pra vc e pra sua esposa!

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  4. E bom desabafar colocar para fora e pensar em como mudar a situação um bj espero que vc fique bem sempre

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  5. Tati, vc tem o direito de se sentir assim, mas deixar que esses pensamentos em 'excesso' desperte em vc de que vc não é útil, capaz e inteligente... ah, isso não pode! Vc pode não estar trabalhando, mas pode e está sendo bem sucedida em outros aspectos da sua vida: é uma mãe e esposa zelosa. Ser dona de casa não era o seu sonho, mas se isso tá acontecendo na sua vida agora, faça com todo o carinho. O futuro a Deus pertence e as pessoas nunca são velhas demais para iniciar um novo projeto, pra começar algo novo.
    ;-)
    bjo
    Raquel
    www.eudonadecasa.com.br

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    1. Amiga, obrigada sempre!
      Que eu faço com carinho todas as minhas tarefas, pode ter certeza. Eu espero que essa fase passe, que tudo clareie um pouco! Sei que sou capaz, mas as vezes nossa capacidade se esconde...rs, enfim, vamos adiante!!!!
      bjobjo!!!!

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